Cálculo Simples Poderia Ter Evitado Desabamento do Teto da Igreja Videira em Goiânia, Afirma Engenheiro
Na manhã desta quarta-feira (19/03/2025), o desabamento do teto da Igreja Evangélica Videira, no Setor Leste Vila Nova, em Goiânia, chocou a capital goiana. O incidente, ocorrido durante a instalação de placas solares, não resultou em vítimas graves, mas expôs falhas graves na execução da obra. A Equipe Elienai News traz detalhes do caso, com base em informações do Corpo de Bombeiros e da análise do engenheiro civil Ulysses Sena.
O Incidente
Por volta das 7h, quatro trabalhadores estavam no telhado da igreja instalando placas solares quando a estrutura cedeu. Eles ficaram presos na parte superior, mas foram resgatados pelo Corpo de Bombeiros Militar de Goiás (CBMGO) com o uso de uma escada de combate a incêndio, sem ferimentos graves. Uma mulher que estava dentro do templo sofreu ferimentos leves na cabeça devido a estilhaços, mas foi atendida e liberada. A principal suspeita é que o peso das placas solares, somado à estrutura metálica instalada para sustentá-las, causou o colapso.
Análise Técnica
O engenheiro civil Ulysses Sena, em entrevista ao portal Rápidas, apontou que um cálculo básico poderia ter evitado o incidente:
“A estrutura metálica original não estava dimensionada para suportar o acréscimo de carga das placas solares. Toda estrutura tem um limite de resistência, definido em seu projeto inicial. Se qualquer alteração for feita sem um estudo técnico, há o risco de sobrecarga e colapso.”
Sena destacou que as placas solares, embora não pareçam pesadas individualmente, geram uma carga significativa quando instaladas em grande quantidade. No caso da Igreja Videira, cerca de 100 placas foram colocadas, totalizando aproximadamente 3 toneladas, sem contar fatores como ventos e chuvas, que podem aumentar a pressão sobre o telhado. Ele enfatizou a necessidade de um estudo técnico:
“Um engenheiro estrutural deveria ter sido consultado para avaliar se a estrutura existente comportaria esse peso extra ou se seriam necessários reforços. Além disso, um laudo técnico e cálculos estruturais precisariam ser feitos. Engenharia não é achismo, é ciência.”
Contexto e Falhas
O pastor Aluízio Silva, presidente da Igreja Videira, informou que a instalação das placas foi feita com um laudo técnico que atestava a capacidade da estrutura para suportar o peso. No entanto, o desabamento levanta sérias dúvidas sobre a qualidade desse laudo e a responsabilidade da empresa contratada. A SunBrasil, responsável pela obra, alegou que havia um aviso meteorológico de ventos fortes no dia do incidente, mas não explicou por que a estrutura colapsou de forma tão uniforme, como mostram as imagens do local.
Casos semelhantes reforçam a gravidade da negligência. Em Recife, em agosto de 2024, o teto do Santuário de Nossa Senhora da Conceição desabou uma semana após a instalação de 130 placas solares, pesando cerca de 4 toneladas, resultando em duas mortes e 25 feridos. Peritos encontraram parafusos rompidos na estrutura metálica, indicando sobrecarga. Em Goiânia, a ausência de vítimas fatais foi um alívio, mas o incidente expõe a mesma falha: a falta de rigor técnico em obras que envolvem alterações estruturais.
Investigação e Responsabilidades
A Prefeitura de Goiânia, por meio da Secretaria de Eficiência, e a Defesa Civil estão no local para avaliar os danos e garantir a segurança da área, que foi isolada. O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO) também investiga a conduta dos profissionais envolvidos, e um laudo pericial deve ser concluído em até 30 dias, segundo a Secretaria de Defesa Social (SDS). O caso será levado à Justiça, já que a empresa atestou a viabilidade da obra, mas o colapso sugere possíveis erros de cálculo ou negligência.
Reflexão Crítica
O incidente na Igreja Videira é mais um exemplo de como a falta de fiscalização e a negligência em obras podem colocar vidas em risco. A crescente adoção de energia solar, embora sustentável, exige cuidados redobrados, especialmente em estruturas antigas como a da igreja, construída há mais de 30 anos. A confiança em um laudo técnico, sem uma análise independente ou supervisão rigorosa, pode ter contribuído para o desastre. Além disso, a pressão por obras rápidas e baratas muitas vezes leva à contratação de empresas que priorizam o lucro em detrimento da segurança, um problema recorrente no Brasil, como visto em tragédias como o colapso do Edifício Wilton Paes de Almeida, em São Paulo, em 2018, onde um incêndio revelou falhas estruturais agravadas por reformas inadequadas.
A ausência de vítimas graves foi uma questão de sorte, mas o caso serve de alerta: cálculos simples e a consulta a engenheiros qualificados não podem ser negligenciados. A Igreja Videira, com cerca de 40 mil membros em Goiânia, agora enfrenta o desafio de reconstruir o templo e a confiança de sua comunidade, enquanto a sociedade cobra maior responsabilidade na execução de obras.
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